Ainda não existe medicamento que cure dor de término de relacionamento

26 de fevereiro de 2024
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Mais uma vez, as redes sociais trazem informações distorcidas e sem comprovação científica sobre o efeito de medicamentos. Agora, a história está relacionada à dipirona. O que vem sendo repassado, principalmente entre os jovens que utilizam o TikTok, é que a ingestão da substância indicada para aliviar febre, dores em geral, cólicas menstruais e no pós-operatório poderia ser útil para ajudar a amenizar a dor do término de um relacionamento.

Sim. A frase “Era só tomar dipirona”, foi deferida por um usuário em vídeo curto e muitos começaram a acreditar e até a tomar o medicamento sem nenhuma orientação profissional. Porém, não existe nenhum estudo relacionado ao tema que possa levar a tal indicação nem de dipirona e nem de outra fórmula farmacêutica para esta finalidade.

O argumento citado para tal conclusão vem de um estudo realizado nos Estados Unidos, no ano de 2010, com uma pequena amostra de indivíduos: apenas 62 pessoas. E, nessa pesquisa, metade desse  grupo teria ingerido paracetamol e não dipirona!

Mesmo assim, a conclusão foi de que o parecetamol – analgésico e antipirético, indicado para a alívio da dor de intensidade leve a moderada – ajudaria a reduzir as respostas comportamentais associadas à dor da rejeição social. Os responsáveis pelo estudo fizeram uma análise de ressonâncias magnéticas dos pacientes que tomaram o medicamento diariamente, por três semanas consecutivas, e identificaram uma alteração em partes cerebrais relacionadas a este aspecto.

Ainda bem que, em outro vídeo, divulgado pelo perfil de duas influenciadoras, sendo uma delas farmacêutica-bioquímica e doutora em biociências e biotecnologia aplicadas à Farmácia, Laura Marise, do canal “Nunca Vi 1 Cientista”, ela explicou o estudo e esclareceu que dipirona não cura “dor de coração”.

De acordo com Laura Marise, o paracetamol, assim como a dipirona, se liga a receptores no cérebro para aliviar a dor, e isso interfere na quantidade de moléculas que circulam no cérebro. “O mínimo que se espera, após a ingestão de um medicamento por três semanas, é que a atividade do cérebro esteja diferente. Mas isso não tem absolutamente nada a ver com o medicamento causar algum efeito na dor social, que é o nome técnico para a dor de coração partido”, explica.

Marise esclarece que a possível sensação de relaxamento é exatamente pelo alívio dos sintomas. “Não existe mágica. A relação que estão fazendo vem de interpretar errado um artigo que nem de dipirona era, e que não estabeleceu nada relevante”, diz.

A farmacêutica reforça que não existe indicação alguma em tomar dipirona ou paracetamol para “dor social” e que, além disso, medicamentos como estes, principalmente o paracetamol, podem causar hepatite medicamentosa quando utilizados em doses acima do recomendado.

Riscos e efeitos colaterais da dipirona

Embora a dipirona seja considerada de boa tolerância em todas as faixas etárias, os principais efeitos colaterais já observados são:

– Reação alérgica;
– Desconforto abdominal;
– Queda da pressão arterial;
– Dificuldade para respirar;
– Arritmia;
– Agranulocitose (mais grave e raro)

Síndrome do coração partido

Além de apresentar algo que não é verdadeiro, essa postagem ainda causa confusão sobre um epsódio que se chama síndrome do coração, causado por uma situação de estresse emocional ou físico que altera o ventrículo esquerdo do coração e que não é exclusiva de pessoas que vivenciam o fim de um relacionamento amoroso.

“Ela pode ser desencadeada por qualquer evento estressante, como a perda de um ente querido, um acidente, problemas financeiros ou até mesmo uma discussão intensa”, pontuou o cardiologista do Instituto de Responsabilidade Social Sírio-Libanês Gabriel Gonzalo,, ao portal UOL.

“A Síndrome de Takotsubo [outra forma de chamar esse tipo de cardiomiopatia] e seus efeitos no coração são semelhantes a uma dor do infarto. O que é muito diferente de uma angústia que não tem consequências no coração. Esse quadro é desencadeado pela exposição excessiva a hormônios do estresse, como a adrenalina, que são produzidos quando somos submetidos a fortes emoções”, disse.

Entre os sintomas, estão dor no peito, falta de ar, palpitações e até mesmo desmaios repentinos. O tratamento depende da gravidade dos sinais, mas é semelhante ao tratamento para insuficiência cardíaca. Entre eles, o uso de medicações inibidoras da enzima conversora de angiotensina (IECA), diuréticos e beta bloqueadores, vasodilatadores, antidepressivos e ansiolíticos.

 

Fonte: Comunicação do CFF, com informações do UOL

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