Quatro farmacêuticos piauienses fazem do grupo que elaborou o estudo, formado por: Sâmia Moreira de Andrade, Maurício Almeida Cunha, Elison Costa Holanda, Gizelli Santos Lourenço Coutinho, Roseane Mara Cardoso Lima Verde e Evaldo Hipólito de Oliveira.
Entre os anos de 2010 e 2017, foram notificados 565.271 casos de intoxicação no Brasil. Destes, 298.976 tiveram o medicamento como agente tóxico mais frequente, correspondendo a 52,8% do total das ocorrências. Os dados são objeto do estudo “Caracterização do perfil das intoxicações medicamentosas por automedicação no Brasil”, produzido por um grupo de farmacêuticos pesquisadores formado por quatro piauienses: Sâmia Moreira de Andrade, Evaldo Hipólito de Oliveira, Elison Costa Holanda e Roseane Mara Cardoso Lima Verde; e dois maranhenses: Maurício Almeida Cunha, e Gizelli Santos Lourenço Coutinho; e publicado no último 10 de maio na revista internacional Pesquisa, Sociedade e Desenvolvimento (Research, society and development). As informações utilizadas para o embasamento da pesquisa foram coletadas no site do DataSUS, a partir do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).
Os medicamentos intoxicaram mais que drogas de abuso, agrotóxicos agrícola e raticida, responsáveis por 88.686 (15,6%), 37.950 (6,71%), 34.027 (6,01%) dos casos respectivamente. As notificações com menor predominância foram dos cosméticos com 7.751 (1,37%). A pesquisa reforça o alerta sobre o uso indiscriminado de medicamentos no país.
O propósito do estudo foi analisar o perfil clínico e epidemiológico de pacientes com quadro de intoxicação por automedicação e expor os impactos desses casos na vida dos indivíduos e no sistema de saúde. A predominância de intoxicação por agente medicamentoso ocasionado de forma acidental equivale a 42.968 (36,3%) casos. A automedicação motivou 17.923 dos casos de intoxicação (15,15%). Os demais casos decorreram do uso terapêutico (13.084 ou 11,06%), uso corriqueiro (10.750 ou 9,1%), abuso (7.451 ou 6,3%) e erro de administração (6.888 ou 5,82%). Os anos de 2016 e 2017 foram os que mais tiveram incidência de casos, correspondendo a 22.573 e 17.422, respectivamente.
É relevante evidenciar que a evolução da cura sem danos de intoxicação por medicamentos representa a maioria de casos 249.372 (84.9%). Em 2010 eram apenas 15.459, em 2011 o número de casos chegou a 20.918, no ano de 2012, 26.596 casos de cura sem dano por intoxicação foram notificados. No ano de 2013 os casos chegaram 31.606, já em 2014 foram 34.379, em 2015 mais 34.300 casos foram relatados, 2016 chegou a marca de 36.455 casos e 2017 contabilizou 49.659 casos. É possível perceber o crescimento equivalente da notificação de agente tóxico por ano.
O estudo também faz menção a dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX) da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). De acordo com o SINITOX, em 2015, foram registrados 24.549 casos de intoxicações por agentes farmacológicos, sendo este, a primeira causa dos envenenamentos no Brasil, representando 33,86% dos casos.
A automedicação está atrelada a fatores econômicos e sociais, trata-se de um problema em saúde pública. A prática ocorre a partir do surgimento do menor sintoma de alguma doença, ou também pelo impulso em obter o medicamento com o intuito de sanar um inconveniente. Entretanto, o uso indiscriminado de medicamentos oferece inúmeros riscos à saúde como explica uma das farmacêuticas autoras da pesquisa, Sâmia Andrade. “Os medicamentos são de suma importância no sistema atual de saúde. Ao serem utilizados de modo correto. Atualmente, pessoas em todo o mundo possuem fáceis acessos a esses produtos terapêuticos, facilitando a prática de automedicação. Então é de total irresponsabilidade dos usuários, essa prática. A automedicação pode mascarar sintomas de doenças, retardar e agravar diagnósticos, além de causar efeitos adversos indesejados, reações alérgicas e intoxicação”.
Os medicamentos interferem na qualidade de vida da população e são importantes nos tratamentos de doenças, desde que utilizados e/ou aplicados de maneira correta. “A automedicação é uma prática caracterizada pela iniciativa em obter e utilizar um produto que acredita lhe trazer benefícios, aqui entra o uso de drogas de abuso, modo recreativo. No entanto, seu uso indiscriminado pode ocasionar riscos à saúde, principalmente por meio da prática de automedicação. O uso indiscriminado de medicamentos é muito preocupante, pois acarreta em potenciais danos para a saúde e possui riscos inerentes. Mesmo sendo consumidos utilizados como forma de autocuidado na população”, aponta a farmacêutica bioquímica.
O presidente do Conselho Regional de Farmácia do Piauí, Luiz Júnior, ressaltou a importância da pesquisa e pontuo os riscos da automedicação. “Parabenizar os farmacêuticos pesquisadores que desenvolveram esse estudo que corrobora exatamente com uma campanha que os conselhos Federal e Regionais realizam anualmente para alertar sobre os riscos da automedicação, que pode resultar em agravamento de algumas doenças ou dificultar o diagnóstico de outras, além do perigo da intoxicação”, destaca.
O conselheiro federal de Farmácia pelo Estado do Maranhão, Marcelo Rosa, explica que em muitos casos é comum a prescrição médica e a orientação farmacêutica ser substituída por um aconselhamento indevido de um familiar ou amigo baseado em achismo, o que torna a prática altamente perigosa, pois o medicamento que serve para uma pessoa não necessariamente irá surtir efeitos benéficos e positivos em outra. “São os profissionais farmacêuticos que garantem aos pacientes informações relevantes e verdadeiras quanto ao uso correto e seguro, riscos de reações adversas e os perigos da administração demasiada de qualquer medicamento”, afirma.
“Diante dos dados apresentados no trabalho fica claro a necessidade de intervenções educativas com a finalidade de informar sobre os riscos do uso indevido de qualquer medicação como também melhorias no processo de notificações. Além do fortalecimento da farmacovigilância em toda Unidade Federativa Brasileira, para a profilaxia dos riscos associados ao uso de medicamentos, assim tendo um menor impacto no sistema de saúde”, conclui Sâmia Andrade.
Acesse o estudo: https:rsd.unifei.edu.br/index.php/rsd/article/view/3952
Fonte: Comunicação do CFF