O atual surto de gripe, associado à pandemia de Covid-19, tem preocupado autoridades e especialistas na área da saúde pelo Brasil. Sintomas comuns causados tanto pelo coronavírus, como pela influenza, gripes e resfriados – como tosse, febre, espirros, dor no corpo e de garganta – tornam o diagnóstico confuso. Muitas vezes, os pacientes são medicados com antibióticos sem necessidade. Esse comportamento pode piorar o já grave problema das bactérias resistentes aos antimicrobianos.
É o que ressalta a farmacêutica Dra Carolina Xaubet, do Centro Brasileiro de Informação sobre Medicamentos (Cebrim/CFF). “Quando os antibióticos são necessários, os benefícios geralmente superam os riscos de efeitos colaterais ou resistências aos antimicrobianos. No entanto, muitos antibióticos são prescritos desnecessariamente e/ou mal utilizados, o que ameaça a utilidade desses medicamentos. É por isso que é importante que todos nós usemos antibióticos somente quando necessário para prevenir a resistência a eles. Este é um grave problema de saúde pública e está associado ao aumento do tempo de internação, dos custos de tratamento e das taxas de morbidade e mortalidade dos pacientes!”
Dados da Fiocruz mostram que, durante a pandemia, houve aumento na disseminação das chamadas ‘superbactérias’. Em 2019, um pouco mais de mil isolados de bactérias resistentes a antibióticos foram enviados por laboratórios de saúde pública de diversos estados do país para análise aprofundada no Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do Instituto Oswaldo Cruz. Em 2021, até outubro, o índice ultrapassou 3,7 mil amostras confirmadas, mais que o triplo em relação a 2019, período pré-pandemia.
A Dra Carolina reforça que a decisão pelo uso desses fármacos deve seguir critérios rígidos. “É importante que as pessoas entendam que os antibióticos só atuam contra bactérias e não têm efeito contra vírus ou qualquer outro micro-organismo. Para que esses medicamentos continuem eficazes, eles devem ser usados com critério, apenas com prescrição médica e não devem ser compartilhados com outras pessoas. O paciente precisa seguir a receita de forma irrestrita, com a quantidade de dose e duração da administração exatas. O uso de antibióticos, apenas quando necessário, é uma forma importante de evitar a resistência a eles”.
A farmacêutica aponta diversas formas de como o farmacêutico pode contribuir para o combate à resistência bacteriana e para a promoção do uso correto dos antimicrobianos. “Ele pode promover a adoção de medidas preventivas para evitar a disseminação de micro-organismos multirresistentes, incentivar a adesão ao protocolo clínico de tratamento, não utilizar antibióticos no tratamento da Covid-19 ou de outra doença se não houver suspeita clínica ou confirmação de coinfecção bacteriana ou infecção secundária. Realizar a conversão da via intravenosa para via oral quando possível. Avaliar diariamente tratamento com antimicrobianos e sugerir a descontinuação se os marcadores clínicos não forem sugestivos de infecção bacteriana ou fúngica. Corrigir a dose ou o modo de administração quando pertinente, monitorar o paciente para potenciais interações medicamentosas ou toxicidade. Planejar e controlar o estoque de antimicrobianos, visando minimizar a falta desses medicamentos no cenário da pandemia”.
Em agosto de 2021, a Anvisa publicou uma nota técnica com orientações para prevenção e controle da disseminação de bactérias resistentes em serviços de saúde, no contexto da pandemia. O texto reforça que os antibióticos não são indicados para o tratamento de rotina da Covid-19, já que a doença é causada por vírus e esses medicamentos atuam apenas contra bactérias.
Fonte: Comunicação do CFF