A quarta edição da publicação Experiências Exitosas de Farmacêuticos no SUS foi lançada nesta quarta-feira, dia 14 de dezembro, durante a 453ª Reunião Plenária do Conselho Federal de Farmácia (CFF), que se realiza até amanhã. A nova edição foi apresentada pelo presidente do CFF, Walter da Silva Jorge João, e pelo vice-presidente do conselho e coordenador do Grupo de Trabalho sobre Saúde Pública, Valmir de Santi. A publicação é anual e o lançamento desta nova edição representa a consolidação de um projeto desenvolvido para valorizar e enaltecer o farmacêutico como profissional imprescindível à saúde pública.
Esta edição traz 24 trabalhos selecionados em um universo de mais de 50. Por meio das experiências dos autores, é possível observar que o trabalho farmacêutico realmente faz a diferença para a saúde e a qualidade de vida das pessoas. Faz, também, um bem enorme para o sistema público de saúde, gerando economia e eficiência. No texto de apresentação da publicação, a Diretoria do CFF chama atenção para alguns dados estatísticos importantes, que comprovam essa afirmação.
Somente em 2013, o país poderia ter economizado até R$ 2,5 bilhões com hospitalizações de urgência e emergência. Isso porque, segundo as conclusões de uma revisão sistemática publicada em 2002, até 24,2% das internações hospitalares de urgência ou emergência são provocadas por problemas relacionados a medicamentos (PRMs), e cerca de 70% podem ser evitadas (PATEL; ZED, 2002). Naquele ano, segundo dados do Departamento de Informática do SUS (Datasus) sobre internações hospitalares na rede pública, foram registradas 3,2 milhões de internações de urgência e emergência associadas a problemas com medicamentos no país, que custaram R$3,6 bilhões aos cofres públicos (considerando o custo médio de R$1,13 mil por internação pelo SUS). O montante que poderia ser economizado corresponde a 70% desse valor.
Trata-se de economia impossível de ser feita sem a intervenção direta dos farmacêuticos. A presença desses profissionais nas unidades de saúde, sejam públicas ou privadas, além de evitar os PRMs, contribui para racionalizar o uso de medicamentos, padronizar condutas terapêuticas e evitar perdas evitáveis. É o que conseguiu comprovar o município de Blumenau (SC). Um estudo feito no município constatou que a redução de gastos com medicamentos é inversamente proporcional ao aumento do número de farmacêuticos contratados. Em 2005, a cidade contava com dois profissionais, cujos salários somavam R$ 33 mil anuais. O custo anual per capita com medicamentos era de R$ 12,71, o que totalizou, no ano, R$ 3,4 milhões. Em 2007, com 11 farmacêuticos na rede municipal e um gasto de R$ 181,8 mil de salários, o custo per capita com medicamentos baixou para R$ 6,65, totalizando R$ 1,7 milhão no ano. Ou seja, a contratação de novos farmacêuticos gerou uma economia anual de R$ 1,6 milhão.
O texto também traz informações sobre a realidade internacional. Experiências de outros países mostram que, além de proporcionar economia, a assistência farmacêutica resulta em qualidade de vida. Dados da pesquisa “Valor social e econômico das intervenções em Saúde Pública dos farmacêuticos nas farmácias em Portugal”, publicada em novembro de 2015, pela Ordem dos Farmacêuticos de Portugal, mostrou que o cuidado dispensado pelos farmacêuticos nas farmácias comunitárias, que são aquelas destinadas ao atendimento direto à comunidade, resulta num aumento de 8,3% na qualidade de vida das pessoas que frequentam esses estabelecimentos e está associado a um ganho de 260.245 anos de vida com qualidade. O valor econômico para a sociedade foi estimado em cerca de 880 milhões de euros anuais, o que corresponde a 3,4 bilhões de reais.
O estudo, pioneiro em Portugal, incidiu sobre as diferentes intervenções dos farmacêuticos em Saúde Pública. Envolveu o acompanhamento de pacientes com doenças crônicas, da saúde materna e da criança, o aconselhamento e a indicação farmacêutica nos casos de transtornos menores (tosse, constipação, diarreia, obstipação, etc), o aconselhamento na cessação tabágica e na proteção solar, a aplicação de vacinas, etc. Não foi considerada no estudo a dispensação de medicamentos, que representa mais de 90% da atividade das farmácias comunitárias em Portugal.
Também foram calculados os ganhos que poderiam advir de 15 intervenções farmacêuticas ainda não implantadas, mas possíveis de serem desenvolvidas nas farmácias comunitárias portuguesas, por meio de uma maior integração das farmácias com os cuidados primários de saúde e também com os cuidados secundários. Considerando a hipótese de implantação dessas intervenções farmacêuticas adicionais, o ganho de qualidade de vida poderá aumentar mais 6,9%, traduzindo-se num ganho adicional de 75.640 anos de vida com qualidade. O valor econômico das intervenções farmacêuticas para a comunidade se ampliará em mais 144,8 milhões de euros ou 574,72 milhões de reais.
Esta edição de Experiências Exitosas de Farmacêuticos no SUS está recheada de relatos que, de certa forma, reafirmam essas estatísticas. No Espírito Santo, o Sistema Estadual de Registro de Preços, para aquisição de medicamentos, conseguiu uma redução de 83% nos preços praticados anteriormente à sua implantação, em compras feitas isoladamente pelos municípios. Além de exemplos de economicidade, há relatos de experiências inéditas, como a dos farmacêuticos de Santa Maria, Rio Grande do Sul, que, em uma situação de desastre, se uniram para proporcionar o cuidado necessário às vítimas do incêndio da Boate Kiss.
“Com orgulho, observamos, também, que o cuidado farmacêutico, a prática clínica – esse jeito antigo de fazer Farmácia, que o conselho tem lutado tanto para resgatar – está cada vez mais presente no cotidiano dos profissionais que atuam no SUS e dos usuários do sistema”, comenta o presidente do CFF, Walter da Silva Jorge João. “Isso significa que nossos esforços estão fazendo eco, se disseminando, beneficiando um número cada vez maior de pessoas”, assinala o presidente.
Durante o lançamento, Walter da Silva Jorge João fez questão de agradecer ao vice-presidente do CFF, Valmir de Santi; aos membros do Grupo de Trabalho sobre Saúde Pública do CFF – Lúcia de Fátima Sales Costa, Silvio César Machado Santos, Lorena Baía Oliveira Alencar, Israel Murakami, Wilson Hiroshi de Oliveira Uehara e Renata Cristina Rezende Macedo do Nascimento; à comissão de avaliação dos trabalhos, formada pelas farmacêuticas, Alessandra Russo, Claudia Serafin e Pâmela Saavedra; e à equipe da Coordenadoria de Imprensa, que trabalhou na edição de mais esta importante publicação.
O vice-presidente do CFF e coordenador do projeto, Valmir de Santi, destacou que, certamente, os trabalhos que fazem parte dela serão fundamentais para mostrar, aos gestores públicos, a importância do trabalho farmacêutico. “De forma positiva, os colegas que relatam suas experiências estão contribuindo para transformar a realidade da saúde pública em seus estados e municípios. Eles estão mostrando que farmacêutico na saúde pública não é custo. É investimento!”
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Fonte: Comunicação do CFF