Uma vacina contra o ebola se mostrou 100% bem-sucedida em testes conduzidos durante a epidemia na Guiné. É provável que ela leve a epidemia no oeste africano a um fim, dizem especialistas.
Os resultados dos testes, feitos em mais de 4.000 pessoas, são notórios por causa da velocidade sem precedentes com que o desenvolvimento da vacina foi conduzido.
Normalmente, o processo leva mais de uma década. Desta vez, foi apenas um ano.
“Tendo visto os efeitos devastadores do ebola em comunidades e até mesmo em países inteiros, eu estou muito encorajado pela notícia que damos hoje”, disse Børge Brende, ministro do exterior da Noruega, que ajudou a financiar as pesquisas.
“Essa nova vacina, se os resultados se confirmarem, pode ser a bala de prata contra o ebola, ajudando a trazer a epidemia atual para zero.”
TESTES
Por conta da redução do número de casos de ebola no oeste africano e a natureza transitória da epidemia, com muitos pequenos surtos, os pesquisadores resolveram testar um novo tipo de desenho experimental.
O usual seria pegar a população em risco de contrair a doença, vacinar metade e dar placebo (injeção sem princípio ativo) para a outra metade. No entanto, os pesquisadores usaram um design em “anel”, similar ao que ajudou a provar que vacina contra a varíola funciona, na década de 1970.
Quando o ebola surgia em um povoado, pesquisadores vacinavam todos as pessoas próximas da pessoa doente, como parentes, amigos e vizinhos –se assim quisessem.
Crianças, adolescentes e mulheres grávidas foram excluídos por conta da falta de dados de segurança.
Para testar quão bem a vacina protegeu as pessoas, os grupos recebiam a dose aleatoriamente, imediatamente após a confirmação do caso de ebola ou após três semanas.
Entre as 2.014 pessoas vacinadas imediatamente, não houve casos de ebola por dez dias após a vacinação –permitindo que a imunidade se desenvolvesse.
O estudo foi financiado majoritariamente pela Organização Mundial da Saúde e reuniu cientistas de diversos países. Os resultados foram publicados nesta sexta pela renomada revista científica “The Lancet”. A vacina pertence à farmacêutica Merck.
Os dados dos testes agora vão para agências regulatórias nacionais. Ainda não se sabe o custo exato por dose. É provável que a injeção seja aplicada apenas em pessoas em situação de risco, não na população toda.
Os ensaios vão continuar, mas sem randomização, o que significa que na Guiné, onde houve 3.781 casos e 2.521 mortes, todas as pessoas que têm contato com alguém infectado (e os contatos delas) poderão receber a vacina, se quiserem. Um trabalho feito no Gabão estabeleceu que a vacina é segura para crianças e adolescentes e a ela também será oferecida para esse público.
A vacina, chamada “rVSV-ZEBOV”, foi originalmente desenvolvida pela Agência de Saúde Pública do Canadá, antes de ser vendida para a Merck, antes dos testes.
Fonte: Folha de S.Paulo