Cientista brasileiro correlaciona epidemia de dengue à pandemia de Covid-19

23 de setembro de 2020

Ainda pendente de revisão por pares para publicação em revistas científicas, um estudo coordenado pelo cientista brasileiro Miguel Nicolelis, docente catedrático da Universidade Duke, na Carolina do Norte, traz luz à necessidade de sanar a crise sanitária instalada no mundo em decorrência da infecção humana pelo Sars-CoV-2. O pesquisador teve a sensibilidade de comparar mapas e dados epidemiológicos relacionados à infecção por Aedes Aegypti e pelo vírus da Covid-19, no Brasil.

De acordo com o estudo, a maioria dos lugares onde os índices de contágio por dengue foram altos entre 2019 e início de 2020 levou mais tempo para atingir transmissão comunitária exponencial de Covid-19. Mirando em um alvo e acertando em outro, a equipe envolvida na condução do estudo percebeu que as regiões com baixo número de casos pelo novo coronavírus estão com indicadores de dengue em alta, o que pode estar atrelado a uma interação imunológica entre os dois vírus de famílias distintas.

Mesmo ainda se tratando de uma hipótese, os resultados preliminares do estudo são intrigantes. Os estados do Paraná, Santa Catarina, Rio grande do Sul, Mato Grosso e Minas Gerais, cuja a incidência de dengue no ano passado e início deste ano foi alta, demoraram mais para alcançar um estágio avançado de transmissão comunitária de Covid-19.

Um exemplo do contraponto é o Amapá, que teve poucos registros de dengue no mesmo período, e levou aproximadamente dois meses para atingir 500 casos de Covid-19 por 100 mil habitantes. Já no Paraná foram mais de 120 dias. Entretanto, a pesquisa avalia que mesmo com elevada prevalência da dengue em regiões com alta densidade demográfica, os casos de Covid-19 aumentaram. Este ano, a incidência de casos dengue por 100 mil habitantes no Amapá é de 5,4. Enquanto a maior ocorrência do país é do Paraná, com 2.295,8 casos por 100 mil habitantes.

Na tentativa de obter validação quanto ao contraponto no Brasil, Miguel Nicolelis expandiu a análise da correlação entre a dengue e o novo Coronavírus a outros países da América Latina, África e Ásia, e segundo ele o comportamento foi o mesmo. “Quando a incidência de Covid-19 versus a incidência de dengue em 2019-2020 foi transposta para esses países, nós novamente obtivemos uma significativa correlação inversa exponencial. Em outras palavras, quanto mais casos de dengue um país teve durante a epidemia mundial de dengue em 2019 e nos primeiros meses de 2020, menos casos de Covid-19 o país registrou até julho de 2020. Basicamente, isso foi muito similar aos resultados obtidos usando dados para os estados brasileiros”, afirma.

O conselheiro federal de Farmácia pelo Estado do Paraná, Gustavo Pires, ressalta a importância dos cientistas e pesquisadores estarem sempre atentos às minúcias do ponto de vista científico em meio a uma corrida epidemiológica. “Sabemos é uma hipótese, a qual ainda requer uma avaliação por pares. Contudo, não podemos desprezar esse ponto de vista, pois pode nos trazer novas respostas e indícios, sendo de extrema relevância evidenciar a observação feita pela equipe envolvida na execução do estudo”, afirma.

Brasil já notificou quase um milhão de casos de dengue esse ano

Nas semanas epidemiológicas 1 a 34 de 2020, o Brasil notificou 924.238 casos prováveis de dengue, o que corresponde a uma taxa de incidência de 439,8 casos por 100 mil habitantes. Os números foram divulgados pelo Ministério da Saúde na última edição do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, de número 36, sobre o monitoramento dos casos de arboviroses urbanas transmitidas pelo Aedes Aegypti (dengue, chikungunya e zika).

A região Centro-Oeste apresentou a maior taxa com 1.159,9 casos por 100 mil habitantes, seguida das regiões Sul (929,2 casos/100 mil habitantes); Sudeste (339,1 casos/100 mil habitantes); Nordeste (240,7 casos/100 mil habitantes); e Norte (106,7 casos/100 mil habitantes). Neste cenário, destacam-se os estados do Acre, Bahia, São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal com incidências acima da apresentada no país.

Segundo o Ministério, a disposição dos casos possíveis de dengue no Brasil por semanas epidemiológicas de início dos sintomas revela que, até a semana epidemiológica 11, a curva epidêmica dos casos viáveis do ano atual extrapola o número de casos do mesmo período para o ano de 2019. Porém, a partir da semana epidemiológica 12, é possível observar a diminuição dos casos em relação ao ano de 2019.

Para acessar Boletim Epidemiológico 36ª: https://www.saude.gov.br/images/pdf/2020/September/11/Boletim-epidemiologico-SVS-36.pdf

Reportagem G1: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2020/09/21/pesquisa-brasileira-aponta-correlacao-inversa-entre-casos-de-dengue-e-covid-19.ghtml

 

Fonte: Comunicação do CFF, com informações do Ministério da Saúde e G1 Portal de Notícias da Globo.

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