A resistência de microrganismos aos antimicrobianos, que tem como uma das causas o uso indiscriminado de medicamentos, é uma preocupação constante da Organização Mundial da Saúde (OMS). Esta epidemia silenciosa provocou cerca de 4,95 milhões de mortes em todo o mundo, sendo 1,27 milhões diretamente por infecções de bactérias resistentes (2019). No Brasil, onde cerca de 90% das pessoas se automedicam (Pesquisa ICTQ/Datafolha, 2024), dados reunidos pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) em parceria com a IQVIA mostram que o quadro pode ter se agravado em função da pandemia de Covid-19. Por tudo isso, o CFF elegeu este como tema da sua campanha anual pelo Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, 5 de maio.
O levantamento mostra que, na pandemia, o varejo farmacêutico experimentou um aumento sustentado nas vendas de antimicrobianos. O ápice de 228,3 milhões de unidades vendidas foi atingido em 2022 (38,53% de aumento em relação ao ano anterior). Este crescimento significativo reflete uma tendência ascendente, partindo de 171,1 milhões de unidades em 2019 (dados de março a dezembro), para 180,7 milhões em 2020 e 187,3 milhões em 2021. “Apesar de uma leve redução para 219 milhões de unidades em 2023, o volume de vendas ainda se mantém significativamente acima dos patamares de anos anteriores, avalia o farmacêutico, pesquisador e professor Gabriel Freitas, responsável pela análise dos dados.
Essa influência fica ainda mais clara quando é analisado o crescimento nas vendas da azitromicina, antibiótico que integrou o chamado “kit covid”, junto com a hidroxicloroquina, a ivermectina, dexametasona e vitaminas C e D. Quando relacionamos o consumo deste medicamento pelo Brasil, é visto um crescimento entre todas as regiões entre o período de 2019 a 2020. A região Norte apresentou um incremento substancial de cerca de 123%, com ênfase para os estados de Roraima (183%), Amazonas (166%) e Acre (138%). Nas regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste foram registrados aumentos superiores a 60% no consumo de unidades/comprimidos ao longo do ano.
A conjuntura observada acima representa uma grave ameaça à prevenção e ao tratamento de várias infecções causadas por vírus, bactérias, fungos e parasitas, o que acendeu um alerta para a saúde pública, trazendo riscos à vida de humanos, de animais e ao meio ambiente. Em pacientes internados de 87 países, em 2020, o relatório GLASS, da OMS, detectou altos níveis de resistência a tratamento em bactérias que causam infecções na corrente sanguínea. Em mais de 60% dos casos de gonorreia, infecção sexualmente transmissível, o agente causador mostrou resistência ao antibacteriano oral mais utilizado. O mesmo relatório mostrou que mais de 20% das infecções do trato urinário eram resistentes tanto aos medicamentos de primeira linha quanto aos tratamentos de segunda linha.
Esse alerta fica ainda mais preocupante se consideradas as estimativas epidemiológicas que preveem tendência de aumento no número de vítimas por infecções bacterianas resistentes: estima-se que, em 2050, 10 milhões de pacientes sejam atingidos, superando as mortes estimadas para câncer (8,2 milhões) e diabetes (1,5 milhões).
O diretor secretário-geral do CFF, Gustavo Pires, afirma que o tema deve ser tratado de forma séria e objetiva, a fim de conscientizar todos os agentes envolvidos. “Nosso trabalho pretende levantar o debate, acionar autoridades e população, propor e promover formas de amenizar o aumento da resistência dos microrganismos aos antimicrobianos no País. O assunto preocupa a comunidade científica e existe um anseio por soluções relacionadas a esse avanço”, justifica o farmacêutico.
A campanha – Neste mês de maio, em alusão ao Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, 5 de maio, os conselhos de Farmácia se unem para estampar, à sociedade, um recado claro em relação aos antimicrobianos: “o uso responsável protege o nosso futuro”. A identidade visual da campanha, e dependendo do caso, a cor azul que a identifica, estará estampada nos principais monumentos das capitais de todo o país. Entre esses está o Cristo Redentor, no Rio, e a Ponte Estaiada de Teresina, no Piauí.
“Precisamos mostrar à nossa população e especialmente aos profissionais da saúde, como médicos e farmacêuticos, que a promoção do uso racional de antimicrobianos é uma demanda urgente e crucial para a nossa saúde e bem-estar. Todos somos responsáveis e precisamos contribuir”, avalia o presidente do CFF, Walter da Silva Jorge João.
Lista de pontos turísticos que serão iluminados (confirmados):
DF: Torre de TV
ES: Viaduto Caramuru
ES: Grande Buda de Ibiraçu
GO: Centro Cultural Oscar Niemeyer
GO: Antiga estação ferroviária de Goiânia
GO: Assembleia Legislativa do Estado de Goiás
GO: Viaduto Latif Sebba
MA: Palácio de la Ravardière
MG: Prefeitura de BH
MG: Praça da Estação
MS: Relógio da 14 de a Julho
MT: Igreja Nossa Senhora Auxiliadora
PI: Ponte Estaiada de Teresina
PR: Monumento da Praça 29 de Março
PR: Museu Municipal de Arte (Muma)
PR: Torre de Cronometragem do Parque Náutico
PR: Museu do Automóvel no Parque Barigui
RJ: Cristo Redentor
RS: Assembleia Legislativa
RS: Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre
RS: Arena do Grêmio
SE: Arcos da Orla da Atalaia
SE: Colina do Santo Antônio
SP: Ponte Estaiada Otávio Frias de Oliveira
SP: Biblioteca Mário de Andrade
SP: Edifício Matarazzo (Sede da Prefeitura)
SP: Viaduto do Chá
SP: Pateo do Collegio
Fonte: CFF/Sistema CRFs