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Farmacêuticos comunitários poderão ter título de especialista

29 de março de 2021
Em um momento em que o país vive uma epidemia de uso irracional de medicamentos pela pandemia de Covid-19, o Plenário do Conselho Federal de Farmácia (CFF) aprovou o credenciamento da Sociedade Brasileira de Farmacêuticos e Farmácias Comunitárias (SFFC) para a concessão do Título Especialista Profissional Farmacêutico Comunitário. A decisão foi tomada nesta quinta-feira, 25/03, durante sua 502ª Reunião Plenária Ordinária, que ocorre de forma virtual e termina nesta sexta-feira, 26/03. A previsão da titulação está prevista na resolução do CFF Nº 581 de 29 de agosto de 2013, com nova redação dada pela resolução nº 643 de 27 de julho de 2017.
A medida beneficia 80% da categoria farmacêutica, que tem, agora, a possibilidade de se habilitar a um título que vai conferir ao profissional detentor algumas vantagens importantes, como uma maior pontuação em concursos públicos ou em seleção para nomeação a cargos de empresas. A titulação dos profissionais estimula a qualificação e beneficia, além da carreira do farmacêutico, a saúde da população.
Ter profissionais mais capacitados nas farmácias e drogarias é fundamental, especialmente em momentos como o atual, em que a sociedade está em busca de todos os recursos terapêuticos possíveis para o enfrentamento da Covid-19. Neste contexto, a informação correta e segura é essencial para evitar cenários como o uso off label desenfreado de medicamentos sem comprovação científica de eficácia para a doença. Levantamento feito pelo CFF em parceria com a consultoria IQVIA constatou que as vendas da hidroxicloroquina, por exemplo, mais que dobraram, passando de 963 mil em 2019 para 2 milhões de unidades em 2020. O aumento foi ainda maior no caso da Ivermectina, atingindo 557,26%.
As provas de títulos já são realizadas no âmbito da profissão para farmacêuticos hospitalares, por meio da Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde (Sbrafh), e farmacêuticos em oncologia, por meio da Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em Oncologia (Sobrafo). A Sociedade Brasileira (SBFFC) foi fundada em 2009, e hoje está presente em 11 estados. Durante toda a sua existência, dedicou-se ao desenvolvimento profissional em sua área de atuação, por meio de cursos, eventos científicos e programas de certificação, como o Selo Sete Estrelas, baseado em conceitos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e Federação Internacional Farmacêutica (FIP). Seu estatuto prevê a concessão do título.
A presidente da SBFFC, Sueza Abadia, informa que o Título Especialista Profissional Farmacêutico Comunitário não tem caráter acadêmico. Ele será concedido mediante prova pública, cujas regras serão definidas em edital a ser publicado em breve. A comissão científica responsável pela prova será presidida pelo doutor Daniel Tenório, professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco. A aplicação estará a cargo do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Farmácia Social (LEPFS), da Universidade Federal de Sergipe, sob a direção  do professor e doutor em ciências farmacêuticas, Divaldo Lyra, e equipe. A sociedade pretende buscar parcerias, como é o caso do próprio Conselho Federal de Farmácia.
 “A importância desse credenciamento é justamente para que o sistema conselho federal e regional passe a apostilar. Então o farmacêutico comunitário que atender aos requisitos propostos pela SBFFC e submeter-se à prova de títulos vai receber esse certificado como farmacêutico especialista profissional em farmácia comunitária”, esclarece.
A ideia é também homenagear com os próximos títulos o farmacêutico Joselito Cordeiro Santos, presidente da regional do Acre da SBFFC, falecido recentemente, como forma de  agradecimento pelos serviços prestados à farmácia comunitária do Brasil.
“ Recebemos com muita alegria e satisfação a aprovação pelo plenário do Conselho Federal de Farmácia que entendeu a importância para o segmento e para categoria farmacêutica. O título de especialista profissional farmacêutico comunitário sem dúvida será para a farmácia comunitária um grande marco necessário, tendo em vista a pandemia e os farmacêuticos que perdemos e toda a situação calamitosa que estamos enfrentando. É uma grande alternativa e opção de fortalecimento da farmácia comunitária que tem deixado o seu forte papel na pandemia. “
Dispensação qualificada
A discussão sobre a necessidade de se resgatar a prática da dispensação e o atendimento mais direcionado e qualificado na farmácia comunitária abriu a plenária do CFF na quinta-feira.  Como explicou em apresentação o farmacêutico Divaldo Lyra Júnior, que é doutor em ciências Farmacêuticas e professor da Universidade Federal de Sergipe, a dispensação vai bem além da entrega do medicamento e envolve uma abordagem mais direcionada ao consumidor com a orientação sobre o uso do medicamento.
A convite da conselheira federal de farmácia por Sergipe, Fátima Aragão, ele apresentou aos conselheiros um panorama da farmácia mundial e perspectivas e desafios para o Brasil. O professor destacou o protagonismo das farmácias em outros países. É o que ocorre no sistema inglês e no suíço onde a farmácia é a porta de entrada de atendimento no serviço de saúde. Ele também argumentou que a dispensação tem se tornado uma ferramenta de marketing de grandes redes farmacêuticas no mundo.
“Dos 15 países que mais vendem medicamentos, o que inclui o Brasil, só 3 não têm farmacêutico em tempo integral dentro da farmácia. Nos EUA, onde se vende muito mais medicamentos que o Brasil, tem o espaço específico dentro das farmácia para isso e a dispensação no varejo existe e como agregador de recurso. Nos últimos anos, o grupo Walgreens Pharmacy, que é a maior rede de farmácia do planeta, fez um estudo científico mostrando que a dispensação era economicamente viável para os planos de saúde. O estudo mostrou melhora da adesão ao tratamento e de melhoras clínicas, inclusive, redução de idas à urgência e de realização de exames clínicos, todos provenientes de um bom serviço prestado na farmácia.”
O professor Divaldo lembrou que cerca de 80% desses profissionais estão nas farmácias comunitárias ou de manipulação por todo o País. São eles que, muitas vezes, têm o primeiro contato com um paciente que procura por medicamentos para aliviar sinais e sintomas, mesmo sem prescrição, ou para adquirir os produtos prescritos pelo médico. Caberá ao farmacêutico, que é o profissional especializado em medicamentos, orientar esses pacientes seja qual for a situação.  Ele calcula que cinco minutos sejam suficientes para realizar um atendimento direcionado e com resultado mais satisfatórios.
“A dispensação adequada assegura o acesso, ou seja, o paciente vai ter acesso ao medicamento mais apropriado para sua necessidade; garante a prescrição apropriada e reduz erros de prescrição; aumenta o conhecimento e os resultados do paciente:  o que é bom para o paciente, o que é bom para a sociedade e bom para o sistema de saúde e para os planos de saúde também. Então isso é viável.”
Divaldo citou  ainda uma pesquisa nacional do uso de medicamento do Ministério da Saúde também revelou que 40% dos brasileiros não sabiam usar medicamentos corretamente. Tendo em vista que grande parte das prescrições apresentam problemas, como ocorre também no Brasil, Divaldo enxerga como necessário criar um modelo de acreditação da farmácia e da dispensação farmacêuticos, que atribua valor e indicadores do serviço desempenhado pelo profissional. De acordo com ele, modelos assim já são implantados em países como o Canadá.
A conselheira federal pelo estado de Sergipe, Fátima Aragão reforçou que se trata de um grande desafio. Já que, na prática, muitas vezes, não há a dispensação na farmácia. “A atividade de dispensar é exclusiva do farmacêutico, mas o que vemos na prática na farmácia comunitária, às vezes, não tem nada a ver com dispensação. O que a gente precisa realmente é remodelar esse modelo que não é dispensação.”
O presidente do Conselho Federal de Farmácia, Walter da Silva Jorge João,  acrescentou que seria interessante também aliar o ato da dispensação ao cuidado em saúde e educação em saúde. “Nós sempre lutamos pela figura do consultório farmacêutico, em agregar valor ao produto. O medicamento é um produto que precisamos agregar valores que é a oferta dos nossos serviços.”

 

Fonte: CFF

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